Shikantaza e o Movimento Potencial

Monja Eishun

Aos olhos do público a postura do Zazen na prática Zen é vista como um movimento potencial.
Mas aos olhos do praticante Zen, que é um olhar não público (de fora pra dentro), mas um olhar de dentro, já que ele é o que vê, mas é também e ao mesmo tempo o que pratica. E a este olhar o que seria de fato movimento potencial? O que é estar totalmente imóvel? Respiramos, o pulmão se move, o diafragma, as costelas, o tórax, o abdome, as narinas, a coluna vertebral (cervical, torácica e lombar), a pele...
Expansão e recolhimento.
O tempo todo.
Então prendemos a respiração e o coração continua batendo, expansão e recolhimento; o sangue circulando; como parar? Como zerar o movimento? Existe um movimento zero?


Existe algum Movimento Potencial no Zazen?
Tudo está em expansão e recolhimento. Quando digo tudo quero dizer o universo todo, o tempo inteiro.
Expandindo.
Recolhendo.
O Tempo todo.
Suponhamos, que o nascimento seja o movimento de expansão da vida, ou seja, a inspiração; e a morte, o recolhimento.
Então podemos concluir que, se no nascimento há expansão e recolhimento, na morte, também há respiração – expansão e recolhimento.
O Movimento Potencial está para o movimento assim como o Shikantaza está para o Zazen.
E o ponto de encontro entre o Shikantaza e o Movimento Potencial está na respiração.
Sentar-se em Zen, não é, embora pareça, uma ação rígida e desprovida de movimento.
Enquanto sentamos, imóveis, a vida se expressa ininterruptamente inspirando, expirando.
Expansão e recolhimento, corpo e mente, micro e macro.
Não temos, principalmente no Ocidente, o hábito do não movimento.
Calar o corpo é talvez mais difícil do que calar a voz.
Ao calar o corpo o silêncio externo implode em convulsões dolorosas.
O que aos olhos de fora é chamado Zen e lido como tranqüilo e sereno é, na prática, uma bomba ativada pronta para explodir no minuto presente.
Presente.
Estar presente.
Presente na dor.
O corpo dói enquanto a cabeça gira, sofre, chora, tem raiva, quer fugir, quer matar e morrer, sumir, sair correndo, sacudir, Ufa!!!
Isto é Zen.
Isto é ser Zen.
O Zen visto com os olhos do Zen.
E o que é ser Zen?
É busca constante sem pausa.
No Movimento Potencial o ponto zero mantém o ponto zero.
No Zazen o ponto zero é apenas um ponto.
No Zazen o ponto zero é o ponto entre o mais e o menos.
Pro mais é movimento,
pensamento,
emoção...
Quando se chega no zero no Zen, na verdade apenas se chega ao começo, à possibilidade de ir adiante.
Respirar na dor, entrar em contato com a vida.
E a vida é também dor.
É a possibilidade na impossibilidade.
O verdadeiro Zen começa do zero pra menos.
Quem sou eu?
O que pensamos saber, o que acreditamos ser o real, é só o que vai do mais ao ponto zero.
Do ponto zero pra menos, é onde o real começa.
Do ponto zero pra menos, é só onde o real começa.